Entre os elementos mais evidentes da presença de culturas diversas na formação da população brasileira, está a língua falada. Dos portugueses, herdamos nossa língua oficial. No entanto, nossa língua portuguesa não é falada da mesma forma por toda a população. Há diferenças regionais que aparecem, por exemplo, no sotaque das pessoas. Os sotaques são explicados pela influência de povos diversos. Além dessa diferenciação nos sotaques, na língua portuguesa falada no Brasil, encontramos muitas palavras de origem indígena e africana.
Palavras que tem origem tupinambá:
Abacaxi, caatinga, caju, capim, capivara, carnaúba, cipó, cupim, jabuticaba, mandacaru, mandioca, maracujá, piranha, quati, sucuri, tatu, Aracaju, Guanabara, Guaporé, Jabaquara, Jundiaí, Parati, Piracicaba, Tijuca, entre outras.
Palavras herdadas do quimbundo:
Do quimbundo, língua falada por um dos grupos étnicos africanos, também herdamos muitas palavras: Moleque, cachimbo, quitanda, maxixe, samba, caçula, cafuné, camundongo, canga, carcunda, cochilar, dengue, fubá, marimbondo, marimba, berimbau, mocambo, quitute, senzala, xingar entre outras.
Da Diversidade da Língua para a Diversidade na Língua
O recente Plano Nacional de Cultura: diretrizes gerais (2007), que tramita
no Legislativo sob a forma do Projeto de Lei no. 6835, de 2006, representa
um importante passo no fortalecimento de consensos para a legitimação de
políticas públicas para a cultura. Sensível ao vínculo das práticas culturais
às práticas linguísticas e às tramitações de reconhecimento das línguas não
oficiais como objeto de atenção do Estado Brasileiro, esse documento enuncia
três importantes indicações para a diversidade linguística: a) a valorização
das línguas indígenas pela produção e tradução de documentos oficiais e pelo
seu reconhecimento como línguas oficiais nas regiões onde são praticadas;
b) o fomento de línguas e dialetos regionais de grupos étnicos
e socioeconômicos diferenciados, valorizando as diversas formas e sistemas
de comunicação e; c) fomento da Língua Portuguesa em
âmbitos internacionais, sobretudo na CPLP.
Fundamentais para estabelecer princípios para a atuação política por parte
dos governos - embora não especifique ações para todas as línguas, entre as
quais as africanas e os crioulos - essas indicações desenham um novo espaço
de articulação entre as línguas que ficaram de fora do domínio da oficialidade
ocupado pela Língua Portuguesa, e com isso, colocam em evidência a necessidade
de se implementar mecanismos para sua sustentação, em seus múltiplos usos.
São os desdobramentos desse enfoque sobre as línguas não oficializadas pelo
Estado Nacional que nos interessa destacar. Além de suscitar questões de ordem
jurídica, discutidas por Soares (2008), a inclusão dessas línguas no programa
governamental transforma o seu papel político e seus efeitos sociais.
Consideradas por sua articulação a práticas culturais diversas, as línguas
promovem uma diversificação nos meios e instrumentos de formulação e gestão
dos conhecimentos, inclusive os que se referem às práticas políticas de gestão
pública dos bens sociais. Pelas línguas promove-se uma diversidade que acontece
nas línguas e não somente sobre elas. Desse modo, ao abarcar a diversidade de
línguas - as diferentes línguas – as políticas de fomento da diversidade linguística
disparam processos sociais que impulsionam também a diversidade nas línguas.
A atenção a esses processos de diversificação nas línguas retira-as do tradicional
papel de objeto de políticas, quase sempre circunscritas a programas de ensino,
para tomá-las como instâncias especificas em que as políticas de diversificação
– experienciadas como formulação e expressão de sentidos - se materializam
socialmente.
Por essas características, a proposição e condução de programas para o fim
especifico de promoção da diversidade linguística implica importantes mudanças
para as políticas públicas, porque traz para o centro a necessidade de se discernir
e promover as condições de fomento da diversificação linguística. Dando
origem às discussões que culminaram na elaboração do primeiro programa para
inventariar as Línguas Brasileiras, antes referido, essas mudanças se refratam
também em importantes questões para os domínios das tecnologias e da cultura
política que formata em grande medida a prática política no Brasil. Sobre esses
pontos incide nossa breve discussão a seguir.
3. Línguas e Tecnologias: comunicação, informação e vínculos sociais
A promoção das línguas se articula a ações que atingem, inevitavelmente, os
meios e processos de produção de saberes nessas línguas. Essa perspectiva
implica conceber os espaços e práticas linguísticos em sua ligação às políticas
públicas de fomento de tecnologias da informação e comunicação, de um lado,
e de tecnologias sociais de formulação e gestão de políticas, de outro.
No conjunto dos documentos mencionados, a perspectiva de promoção
desses espaços é multiplamente salientada. É recorrente a atenção solicitada
à ampliação dos sistemas informatizados de gestão e disponibilização de
informações, associada à ampliação das redes de comunicação que garantam
o acesso às tecnologias digitais. Nessa investida reconhecemos a necessidade
de se atender às demandas oriundas da incontornável presença destas
tecnologias que estruturam a sociedade do conhecimento, e que cada vez
mais acentuadamente determinam as relações sociais. Quanto às tecnologias
sociais, sua breve menção no Programa Cultural para o Desenvolvimento do
Brasil sugere a inclusão nesse processo das práticas de formulação e gestão
política dos conhecimentos.
Para a discussão que estamos propondo, conforme indicamos em outro texto
(Morello&Oliveira, 2006), as tecnologias se engendram como práticas sociais,
entre elas, as práticas linguísticas. Nesse sentido, as tecnologias da informação
e comunicação podem ser especificadas enquanto procedimentos e formas
de construção de conhecimentos nas línguas, e sobre elas, pelos que as
falam. Conforme propõe Auroux (1992), podemos atribuir-lhes o estatuto de
instrumentos linguísticos de elaboração e circulação de saberes nas línguas, e
como tais, instrumentos que transformam a ecologia das relações humanas.
Esta perspectiva conduz a reconhecer que há conhecimento tecnológico
especifico envolvido na produção de conhecimentos linguísticos, ou seja,
conhecimentos que se constituem na relação com a história dos falantes, que
fundamentam não somente a descrição das línguas mas processos amplos de
elaboração e socialização dos saberes.
No entanto, a articulação do instrumento a estes processos históricos de
elaboração e socialização de saberes podem ser objeto de atenção de políticas,
que podem, por sua vez, dimensionar um papel social para o instrumento. Pela
ação política, o instrumento se torna dispositivo, instituindo uma nova prática
legitimada pelo poder que a instituiu.
Neste sentido, a ancoragem política para a produção de conhecimento nas línguas
e sobre elas é fundamental para que os instrumentos que a instituem operem
como dispositivos. Trata-se, em nossa perspectiva, de produzir as condições
para que conhecimentos aportados pelas diversas línguas ganhem o estatuto
de tecnologias sociais no sentido proposto para as novas iniciativas na área das
ciências tecnológicas, a saber: processos que “compreendem produtos, técnicas
ou metodologias reaplicáveis desenvolvidas em interação com a comunidade
Aprofundar uma discussão sobre as estratégias possíveis de atuação nessa
direção se coloca, então, como um desafio para as políticas de diversificação
das culturas e línguas nas línguas.
Entre as implicações sociais de iniciativas nesta direção, ganha relevância o fato
de que as políticas para a diversificação dos usos das línguas ampliam os espaços
de exercício do direito cultural uma vez que demanda, promove e reconhece
um papel agentivo dos falantes. Consequentemente, é um processo que atua na
direção de promover mecanismos de vinculação social, interferindo nos processos
de memorialização das relações sociais e dos saberes que as constituem.
Para as políticas de fomento das diversas línguas brasileiras, compreendemos
que avançar nessa direção dimensiona, no âmbito governamental, um novo
patamar de ação política Implica observar relações de significação que
Diversidade no Brasil: línguas e políticas sociais densificam a ação política,
demandando atenção para outros aspectos ainda poucos contemplados nos programas propostos como é o caso do estatuto das
línguas nos diferentes âmbitos em que circulam (Oliveira, 2003; Calvet, 2007) e
sua importante articulação com a constituição de uma memória social.
4. As divisões desiguais nas práticas de representação e participação política:
intervenções na cultura política
Na perspectiva acima explicitada, as políticas de fomento da diversidade
lingüística desencadeiam uma nova experiência de democratização de
mecanismos de representação e participação de diversos segmentos sociais nos
espaços de formulação, implementação e gestão de políticas publicas.
Na história das relações de poder que formam o Estado Brasileiro se estruturou
uma divisão desigual desses espaços. Como se pode constatar a partir de
aprofundadas análises dessa problemática, os vínculos requeridos para uma
efetiva representação e participação das variadas faixas das sociedades civis
na formulação de políticas reproduziram um sistema de valores e modelos de
grupos legitimados, excluindo historicamente desse espaço uma ampla faixa de
brasileiros não participantes de tais grupos. Falamos de lutas políticas que se
travam em várias arenas, e que reproduzem uma exclusão de base em relação a,
por exemplo, minorias étnicas de negros e indígenas, ou mais genericamente, aos
que vivem em regiões periféricas ou, se estão nos grandes centros, se nomeiam
indigentes, moradores da rua, os bóia-fria, os migrantes de passagem breve
por uma cidade, de destino provisório ou incerto. Além desses mecanismos, a
oficialização da Língua Portuguesa produziu uma interdição histórica, explicita
ou não, sobre a possibilidade de participação política de sujeitos cidadãos
brasileiros falantes de outras línguas.
Essa situação é experienciada por nós como uma cultura política sedimentada
em uma prática de se considerar o cidadão e o espaço que habita a partir de
uma divisão entre, de um lado, os que tomam parte da formulação e gestão das
políticas e suas aparelhagens e, de outro, aqueles outros a quem essas políticas
se destinam. Colocados como objetos de políticas, esses outros são tomados
majoritariamente como objeto de atenção.
As atuais políticas públicas para a diversidade ficam assim expostas a essas múltiplas
formas de divisão desigual. Sendo incontornáveis, estas divisões se refratam
politicamente nos modos em que se configuram espaços de negociação entre as
instâncias capazes de se representarem no diálogo institucional. A consequência
é que, para atingir uma nova ordem de uma democracia participativa, as políticas
públicas não só necessitam estabelecer diretrizes e instrumentos para fomentar
a diversidade, como também devem dispensar atenção para implementar
mecanismos que minorizem as disparidades e distorções no diálogo.
O investimento em políticas de sustentação da diversidade das línguas constitui,
neste sentido, um desafio e uma abertura inovadora neste âmbito, porque exige
que se coloque em foco as condições de emergência de novas posições a partir
das quais os sujeitos cidadãos brasileiros possam se representar e se dizer em
Diversidade no Brasil: línguas e políticas sociais
suas línguas. Essa produção, em nosso ponto de vista, se organiza por uma
relação com a história das sociedades, instituída pelas línguas praticadas pelos
diversos grupos sociais. A mobilização de novas posições diz respeito, nessa
perspectiva, a instrumentalização dos grupos sociais de modo a potencializar
seu papel agentivo, respeitando as maneiras pelas quais pela linguagem,
simbolizam o mundo e significam seus universos de valores e modos de vida.
Queremos com isso dizer que há um desafio especifico, posto em perspectiva
pelas políticas publicas de fomento da diversidade linguística, que é o de tocar
nessa memória social erigida sobre divisões desiguais dos espaços, e que como
tais, fundamentam as práticas políticas.
Se aqui estamos trazendo uma articulação inevitável entre as línguas e a
memória social, o fazemos visando a destacar que a naturalização daquela
divisão é parte de um funcionamento ideológico dos sentidos. A divisão entre
os uns que tomam parte e os outros que são objeto se apresenta como uma
fatalidade e uma necessidade para as políticas públicas. É uma divisão que
estrutura o modo pelo qual o outro desigual está representado socialmente
como naturalmente incapacitado de formulação. Por ela, há despojamento de
um sentido de direito capaz de organizar simbolicamente as relações dessa
parcela com o poder, já que se parte da divisão. Esse despojamento produz ao
menos dois efeitos: i) justifica, como causa, as desigualdades históricas e as
práticas de exclusão sócio-econômica-política (cujo enunciado seria: não têm
direito porque não “sabe” lutar por ele) e ii) justifica, como efeito, um eterno
retorno das políticas (não só do Estado) sobre os segmentos mais excluídos (é
preciso cuidar dos que não têm direitos).
É pela ambivalência dessa divisão - que se apresenta ao mesmo tempo como
a causa de uma necessidade histórica e um efeito dela - que se constituem
as práticas políticas. As práticas linguísticas incidem sobre elas como espaços
novos de formulação de sentidos pelos sujeitos, podendo desestabilizá-las. Uma
relação que se dá então, pelo confronto, pela contradição. Nosso entendimento
é que a diversificação dos mecanismos implicados em uma gestão diversificada
da diversidade, mobilizada inelutavelmente pela relação com as línguas,
caracteriza um desses espaços de confronto, e portanto, de possibilidade de
abertura para novos e originais canais de formulação política.
5. Os vínculos sociais
Pelas línguas se constituem vínculos sociais, ou seja, modos de relação que
os sujeitos estabelecem entre si e com o espaço habitado. Esses vínculos
passam por vias de significação sutis, que se marcam em rituais e gestualidades
compartilhadas. Em seu entrelaçado, as práticas sociais, inclusive as políticas,
ganham espessura, atualizando e vitalizando, ou mesmo abandonando,
as normativas previstas nos instrumentos legais. Desse ponto de vista, a
naturalização das práticas políticas e dos procedimentos que elas instalam se
confrontam com os modos pelos quais os sentidos circulam e os sujeitos se
representam socialmente, engajados em diferentes discursos.
Queremos com isso dizer que um conjunto de mecanismos discursivos e técnico administrativos
conformam discursos dominantes que interpretam e organizam
politicamente os conflitos sociais, naturalizando-os como parte da memória social
compartilhada. Não se trata da memória individual, associada a uma vontade do
sujeito de se lembrar ou esquecer fatos, sentidos, situações. É mais bem uma
memória coletiva que, em sua natureza, se apresenta como transparente e não
contraditória, ou seja, aparece como desde sempre assim. Em seu funcionamento,
ela mobiliza processos de significação que articulam, como faces de uma mesma
moeda, os domínios simbólicos (de subjetivação do sujeito) e a instrumentação
técnico-administrativa (de organização do mundo) que constituem as relações
sociais. As políticas públicas angariam inúmeros recursos de administração dessa
memória, dando visibilidade a certos pontos, silenciando outros. Dessa memória
administrada faz parte, por exemplo, a “natural” divisão nos mecanismos de
representação dos sujeitos nos espaços de dialogo político, que alimenta uma
desigualdade primaria nas relações políticas como dissemos.
O atual momento estimula uma reorganização nos mecanismos gestores dessa
memória. A implementação de políticas linguísticas propõe o agenciamento
de novos mecanismos de representação de variados setores da sociedade. Mas
esse agenciamento tem, por suporte, os vínculos sociais e os mecanismos que
instalam. Os vínculos afetam a consecução de políticas públicas, interferindo
em sua capacidade de estabelecer lastros identitários, não sendo apenas seus
efeitos. A atenção sobre esses vínculos nos indica os modos de relação cultural
que constituem os espaços simbólicos, compartilhados, desenhando redes de
sustentação para as iniciativas das políticas públicas. Mais um desafio, portanto,
mobilizado pelas atuais políticas para a diversidade.
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Plano de Aula
Explore diversidade da Língua Portuguesa com o documentário "Línguas - Vidas em Português"
Parabens pelo artigo. Acabei de partilha-lo na minha pagina do facebook em primeiro lugar porque este assunto precisa ser discutido e conhecido por nos brasileiros. Somos diretamente responsaveis pela diversidade linguistica a qual recebemos como heranca. E muitos vezes, nao reconhecemos o valor cultural que herdamos. Mas sobretudo somos responsaveis em educar-nos a nos proprios na relacao inclusiva do outro, isso significa conhecer e abrir-se para a beleza historica do Brasil e lutar para que todos sejam beneficiados, especialmente a minoria. E em segundo lugar, nos temos um grupo chamado Viva Brasil STL, o qual esta totalmente direcionado para promover a cultura brasileira aqui no Meio Oeste dos EUA. Entao, sentimo-nos responsaveis para divulgar e ampliar qualquer esforco dirigido a lingua portuguesa. Mais uma vez, parabens!!!!!
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